sábado, 5 de outubro de 2013

Amamentar: Querer x Conseguir

Eu nem sou e nem nunca fui ativista de nada, nem daquelas de sofá que compartilha as coisas no facebook. Não sou de polêmica, não me envolvo com muita coisa, não tenho muita opinião formada sobre assuntos em pauta, não sou defensora de muitas causas, sou influenciável e não tenho compromisso com a opinião. Mudo mesmo. Sou meio café com leite, sabe? Craque em dormir pensando uma coisa e acordar convicta de outra. Dizem que é característica de libriana, ficar na dúvida, pender para os dois lados. Não, eu não gosto de ser assim, mas fazer o que. Mas eu queria falar aqui de um assunto que me incomodou muito quando a Cecília nasceu, mas que, hoje, já não incomoda mais: a amamentação. Assim que engravidei fui bombardeada pela apelação à amamentação no peito, vínculo mãe e filho e tal. Lindo, faz bem ao bebê, é o sonho de toda mãe, acho eu. Mas e quando a realidade é diferente do sonho e você vê seu filho recém-nascido chorar de fome por não conseguir amamentá-lo? Eu tive leite, sim, mas muuuuuito pouco. Cheguei a tirar com a bombinha e verificar,com tristeza, que a quantidade estava abaixo do risquinho dos 20ml. E, vou dizer, é muito triste. E a gente sente culpa.E a gente sente vergonha de dar mamadeira em público. E a gente se odeia por dentro, se sente a pior mãe, sente que seu filho nunca vai estabelecer um vínculo forte com você por conta disso. Tentei, por um período, amamentar e depois complementar com a mamadeira. E, posso falar? É mais triste ainda. Você perceber que seu pequeno só se satisfaz quando mama em outro bico que não o seu, com um leite que seu marido sai pra comprar numa farmácia. Acho que esse é um dos maiores tabus das mães. Até porque sempre vai ter alguém falando que não existe essa de leite fraco, que é só estimular que sai, e que não ter leite é desculpa de mãe que não quer amamentar. Gente, não é verdade. Aconteceu comigo. Acontece o tempo todo, e isso é uma das maiores culpas que uma mãe pode sentir, além do medo do seu filho ficar doente, mentalmente atrasado, entre outras coisas terríveis que ouvimos por aí.É bem fácil falar quando você tem leite pingando das tetas.  É claro que se eu pudesse eu teria amamentado. Estaria, até agora. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram e eu acabei desistindo para não aumentar a frustração. A Cecília? Nem ligou. E, um dia, conversando com uma amiga minha psicóloga, ela me disse uma coisa que me libertou, de certa forma. Me disse que o importante para o vínculo era o contato. O acalentar. O colocar a criança no colo, bem pertinho de você, e alimentá-la. É isso que cria o vínculo. Sobre as doenças que viriam, até agora não apareceu nada. E conheço muita mãe que amamentou e a criança teve várias coisinhas, inclusive alergia alimentar. E não to falando isso só porque eu não consegui não. E não sou menos mãe por isso. Não mesmo. E a Cecília, com quase um ano, continua mamando no meu colo, quentinha, abraçadinha, e assim vai ser, até que ela não queira mais. E aí, claro, eu vou sofrer, mas essa é outra história.

4 comentários:

  1. muito bem escrito. gostoso de ler. parabéns Fer =)

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    1. Obrigadinha. Você também deveria escrever. Ressuscite o blog.

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  2. Nossa, esse post me fez ir as lágrimas. Amanhã meu filho completará um mês, seu primeiro mês, graças a Deus muito saudável, amado por todos. Quem acompanhou minha gravidez sabe dos problemas que tive, do meu de ter um filho prematuro, e depois, quando nasceu, os dias que ele teve que ficar na UTI, por não conseguir respirar sem ajuda. Enfim, um mês depois, ele venceu, está ótimo, mas eu continuo chorando, e as pessoas me perguntam: por qual razão vc se sente tão triste, depois de tudo que passou? Por que está assim, se seu filho está aí, nos seus braços, esboçando seus primeiros sorrisos? Pela única razão que eu não tenho leite, quer dizer, se 10 ml de leite por mamada for considerado leite, sim, eu tenho. Então eu pergunto: é justo? Estou deixando de curtir momentos maravilhosos porque me sinto culpada, porque me sinto menos mãe, menos mulher, menos capaz, menos tudo...e sim, a sociedade te aponta, quando veem uma mamadeira, meu Deus, parece que estamos cometendo um ato obsceno. É muito fácil falar, apontar, ninguém sabe o que passamos. Sim, eu tento, tento...cheguei ao ridículo de fazer até simpatia, já ouviram falar que se "pentear" o peito o leite desce? Pois é, comecei a pentear durante o banho...comi canjica a semana inteira, afinal, ajuda a "dar" leite...sem contar nos remédios, já foram dois, e até agora nada. Obrigada por suas palavras amiga, me ajudou muito, e de fato, eu apoio e muito a amamentação, faria tudo para poder, daria um pedacinho de mim, mas até agora não consegui...então eu pergunto: vou deixa-lo morrer de fome? Acho que isso sim faria de mim uma péssima mãe

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    1. Com certeza, amiga, afinal de contas é muito mais uma coisa da mãe do que da criança. Claaaaaro que é o ideal, mas se não dá, a criança precisa ser alimentada e ponto. Isso é o importante.

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