quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Diagnóstico

Quando eu tinha doze anos, fui pra praia com meus tios e, na volta, uma tia minha alertou a minha mãe que havia algo de errado no meu corpo. Algo assim, meio fora de prumo, desequilibrado. Me lembro até hoje que ela pediu que eu tirasse a blusa e ficasse de perfil pra ela ver uma coisa. E lembro, também, do olhar da minha mãe nessa hora. No mesmo dia, saí da minha vidinha de criança (naquela época 12 anos era criança, diga-se) e deitei pela primeira vez numa maca de raio-x. O resultado foi assustador. Minha coluna tinha feito uma curva em S de uma hora pra outra. Bom, assim eu pensava. Eu também pensava que era só colocar no lugar, e pronto. Médicos e médicos depois, descobrimos que, talvez, esse probleminha seria congênito e idiopático, ou seja, nasceu comigo e não tem razão específica de ser. Talvez fosse por isso que eu nunca havia sentido nada de diferente. Anos depois, fiquei sabendo que a causa teria sido uma falta de ácido fólico da minha mãe, durante a minha gravidez. O meu caso era absolutamente e incontestavelmente cirúrgico, porém, sem garantias de sucesso e mobilidade normais. Optei por não fazer, e meus pais respeitaram a minha decisão. Afinal eu vivia bem com aquilo, aliás, eu não tinha nem visto, até me mostrarem. Me acostumei com os "nossaaaaa", "olhaaaaa", me adaptei às blusinhas que teimavam em ficar tortas, à fisioterapia, e segui assim, feliz por não ter que fazer aula de educação física, que odiava. Um dia me disseram que eu poderia não andar mais se não operasse. Me disseram também que eu talvez não pudesse ter filhos. Tudo bem, depois eu penso nisso. Os anos se passaram, encontrei um médico que me apoiou na decisão de não operar, e fui tentando me equilibrar, literalmente. Coloquei na minha cabeça que eu não teria filhos, era mais fácil assim. Eu pensava, claro, em como era fácil para algumas mulheres, simplesmente engravidar e ser mãe. Para mim, eu sabia que seria muito mais complicado  que isso. Aos 30 anos, descobri que estava grávida no susto, chorei no banheiro com o exame na mão e me condenei à morte mentalmente, pensando nas piores coisas que poderiam me acontecer ou ao bebê. Só que, sabe? A vida é meio engraçada. Quando você acha que tudo vai dar errado, ela te surpreende mostrando que não é bem assim. Tive a gravidez mais comum do mundo, sem enjôos, sem dores nas costas, sem frescuras, sem inchaço, sem nada que me diferenciasse daquelas mulheres que eu via grávidas e secretamente invejava. Tivemos alguns probleminhas no parto (que depois eu conto), mas gente até esquece depois que ganha um filho. Até hoje eu olho pra ela e parece mentira que saiu de mim, que eu consegui, que eu, rata de laboratório de exames, salas de espera de consultórios e raios-x panorâmicos, tive uma gravidez básica e um bebê saudável. Sem contar o fato dela ser linda. E alegre. E simpática. Eu me desfiz de todas as minhas antigas certezas e medos. E hoje eu só sei de uma coisa: quando tem que ser, não há nada que impeça. Quando tem que nascer, nasce, quando tem que acontecer, acontece, e tudo o que você pode fazer é fazer o seu melhor, com o que vem pra você. E agradecer, sempre.

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